A "mais" bela paisagem

O aspecto era o pior que se podia imaginar:

O cheiro era nauseabundo, nas paredes, pintadas com sangue, escorria uma espécie de lama ver e pestilenta. Nas prateleiras estavam as caveiras, algumas delas ainda em estado de decomposição, com cobras a saírem pelos buracos dos olhos. As teias de aranha bloqueavam por completo todas as saídas, sendo estas guardadas pelas tarântulas, cujo veneno tinha morto todos os que ali tinham entrado, estando agora os seu esqueletos estendidos no chão já há alguns anos. Os ratos reinavam nas gavetas, e as cobras, no guarda vestidos, repartiam o seu território com os vampiros albinos. Um escorpião, em cima da cadeira, acabava de comer o seu rato, enquanto as centopeias esperavam a sua vez de participar no festim.

Num canto, estava ainda pendurado o esqueleto de um enforcado. Na cama jaziam dois esqueletos, possivelmente de um homem e de uma mulher, que foram surpreendidos pelas tarântulas durante o sono.

Milhares e milhares de insectos habitavam o chão daquele local moribundo e doentio. As traças devoravam o que restava dos cortinados , e por entre os buracos entravam fracos raios de sol que iluminavam palidamente o local.

Numa cruz invertida estava cruxificado um ser cujas feições, extremamente mutiladas, não se reconheciam. Do estômago brotava sangue, posteriormente reentrava no corpo daquele ser pelas narinas. Dos buracos do crânio escorria a massa cerebral, já putrificada.

Do interior da gaveta de cima da mesa de cabeceira ouviam.se os gritos estridentes, provindos de uma cabeça decapitada que ainda vivia.

A imagem do Diabo pairava no ar, numa espécie de fumo vermelho que saía das velas quase completamente derretidas, dispostas em forma de pentagrama invertido. No centro deste, os órgãos vitais das vítimas dos sacrifícios em honra do diabo eram rodeados por moscas mutantes que se deliciavam e que se lambuzavam com aquelas ofertas sagradas.

Em cima de uma pequena bancada estava uma enorme tigela cheia de olhos humanos ensanguentados, que ainda se mexiam. Ao lado da bancada jaziam os restos mortais de um ser que fora cruelmente estripado e esquartejado.

Quando entrei, rossei com a cara nas teias de aranha. O cheiro nauseabundo cortou-me a respiração, senti uma agonia profunda e dores intensas por todo o corpo. Os músculos do estômago contraíram-se repentinamente e os vómitos saíram a jorros pela minha boca. Engasguei-me com o meu próprio vomitado e comecei a sufocar, desmaiando de seguida.

Quando momentos depois acordei, senti a presença dos espíritos dos que ali jaziam.

Tentei mexer-me, mas não conseguia. Ao olhar para o meu corpo apercebi-me de que estava completamente amarrado com teias de aranha. Os insectos e os vermes caminhavam por cima de mim com grande à-vontade, infiltrando-se no interior das minhas roupas, dando-me uma estranha sensação, devido a milhares de minúsculas patas caminharem directamente em cima da minha pele.

Entrei em pânico e gritei por alguns segundos, parando apenas quando o cansaço e o fôlego me venceram. Foi então que me apercebi que não me adiantava de nada gritar, pois não estava ali mais ninguém vivo, tinha de me desembaraçar sozinho, tinha de usar a cabeça e pensar. O único membro que conseguia mover era a mão esquerda, que estava amarrada ao pé do meu bolso esquerdo das calças. Tentei, com os dedos, partir as teias de aranha que me amarravam, mas em vão, pois estas era muito resistentes e peganhentas, e os meus dedos quase que ficaram colados às teias.

Foi então que me lembrei que era no meu bolso esquerdo das calças que eu sempre guardava o meu canivete suíço. Consegui introduzir a mão no meu bolso. Lá dentro senti dezenas de vermes a mexerem-se, que imediatamente subiram para a minha mão. Foi então que fiquei encharcado em suor. Com grande custo consegui alcançar o canivete no meio dos vermes, e imediatamente retirei a mão lá de dentro, que vinha rodeada por insectos. Sacudi desenfreadamente a mão, para tirar a maioria dos bichos.

Com dois dedos consegui abrir a lâmina e cortaras teias de aranha que me amarravam. Quando finalmente me vi livre delas, levantei-me e sacudi-me dos insectos; Agora já me sentia melhor e desparasitado, embora ainda sentisse alguns vermes a passear pelas costas.

Entretanto, por breves momentos, reflecti, chegando à conclusão de que era melhor começar a limpar o quarto antes que a minha mãe chegasse...

 

Made by: YOGAMAN (Bruno)

in: 29/09/83

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